sábado, 10 de janeiro de 2009

A ida para a Polícia Federal

MYL TON SEVERIANO: Vamos para sua ida para a Polícia Federal.
É. O encontro. Recebo convite para ser procurador-geral de São Gonçalo. Em 1992 me deparo com um pedido para ajudar num processo de impeachment de um prefeito Aires Abdala. Falei para o vereador "vamos pegar fatos de repercussão nacional pra ecoar". Peguei desvio de merenda escolar e remédios. Tinha criança desnutrida, e ele desviando. Botava pra vender em supermercado dele.

MYLTON SEVERIANO: Além de corrupção, cruel.
Beira o genocídio. Bebês morriam por falta de leite materno, que poderia ser suprido com leite que o governo dava. Ingressamos com processo e deu resultado. Era o cacique político da região. E durante o processo foram muitas pressões, ameaças, tentativas de corrupção. Eu sabia que poderia sofrer uma decepção.

FERNANDO LAVIERI: Você temia problemas na votação?
Sim, a vida política é promíscua. O próprio processo eleitoral. Você chega a um eleitor que você vai me dar?" Não pensa no coletivo Parti para um jogo arriscado. A lei que regula o impeachment dizia que a votação é secreta. Era do regime militar. Falei "terá que aberta, quem for a favor do ladrão do dinheiro público vai prestar conta". E o povo gritando "ladrão, ladrão". Os advogados dele sorriram dizendo que estava contrariando a lei. Protestaram. E o povo aplaudindo.

PALMÉRIO DORIA: E você foi responsabilizado?
Não. Ganhei. E o doutor Evandro Lins e Silva, no impeachment do Collor, o que fez?
Adotou. O processo já estava consolidado.

MYLTON SEVERIANO: Em que ano?
Em 1999. José Roberto Santoro era o proccurador que me auxiliava. Abro inquérito por lavagem de dinheiro para o narcotráfico, quebra de sigilo bancârio: governador, prefeito, ex-governador, Fernandinho Beira Mar que tinha ligação com o narcotráfico, com a narcoguerrilha colombiana, as Farc, o Hildebrando Pascoal [ex-deputado federal, o "homem da motosserra" que mandou cortar em pedaços um desafeto]. Aí o Santoro dá um parecer paralisando a investigação, dizendo que não poderia investigar [Hildebrando] por lavagem de ja dinheiro, tinha que comprovar que era narcotraficante. Não dei bola. Fizemos a prisão preventiva por grupo de extermínio. A primeira condenação foi por lavagem de dinheiro. Fechei a investigação em cima do Hildebrando e dos 40 que estavam com ele. Eu disse "doutor Santoro, o tempo é o senhor da razão". Ele disse que eu estava vendo muito filme.

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