sábado, 10 de janeiro de 2009

Satiagraha 2

PAlMÉRIO DÓRIA Vamos para a Satiagraha?
 Quer chegar lá? É muita picaretagem. E feito por uma minoria e estão ai de braço dado. Se você bater de frente é uma força desigual. É quebrada uma conta estratégica. Vislumbramos indício de crimes financeiros. Ajuíza tinha que determinar a abertura de nova investigação.

MARCOS ZlBORDI Esse pedido não é feito pelo senhor.
Exatamente: policia chamava atenção. Então, Ministério Público. Passamos a analisar aquele HD. Começam a se estruturar dois grupos de trabalho, um em torno do delegado Elzio Vicente. Começo a sobrecarregá-lo com    .............dedas. ele não suporta, investigar o Daniel Dantas é coisa pesada. E ele se apresenta para o senhor Paulo e diz "não estou conseguindo s acompanhar o Queiroz". Fico só com a investigação, com uma condição, que o doutor Paulo c ficasse até o final do governo Lula. Digo: "Por c uma razão: se o senhor não ficar, essa investigação para." Ele disse "tenho compromisso com p o presidente de permanecer". Eu disse "essa investigação para no dia seguinte que o senhor r sair". É complexa a capilaridade que o Daniel s Dantas tem ao longo desses 20 anos, desde o ( Fernando Henrique. Só para terem noção, ele tem uma empresa de exploração de mineração, IMG4, que tem mil concessões de exploração de solo urbano. É necessário você ter uma força muito grande dentro do governo. Eles já estavam ofertando a empresa lá fora, no Oriente Médio. O intermediário era o Naji Nahas. Isso significa vender nosso país in natura.

FERNANOO LAVlERI Não basta poder financeiro, tem que ter poder político.
Exatamente. Ele tem muita gente na mão. E prenuncia, a todo tempo, que se acontecer qualquer coisa com ele, ele fala. Uma pessoa falou: "Protógenes, se o Daniel Dantas falar, eu prefiro que ele fique preso."

PAlMÉRIO DÓRIA Houve um momento em que ele disse "'vou falar'"?
Ele disse que ia falar quando da segunda prisão. Tinha certeza. que iria ser solto.

WAGNER NABUCO Você imaginava que seria solto? Sim, mas não tão rápido.

pA!.MÉRIO OÓAIA Até porque tinha gravado que -lá em cima" ele resolvia.
Exatamente. No STJ estava tranqüilo. Estruturamos a segunda prisão. Mas não pensávamos que o STF iria contrariar toda a opinião pública, todas as regras jurídicas, todas as normas processuais.

MYLTON SEVERIANO Vocês não esperavam que ele pudesse ter tanta força política?
Não. E é um poder sec ~~~ F~ P sucessivos atos que dão CI:XWiL i:IE q:Je ele é urma pessoa muito poderosa e que esse poder viria b! com uma velocidade e uma força que se moveria contra quem quer se opusesse a esse grupo. 

PALMÉRIO DÓRIA Não era marolimha, era tsunami. 
Tsunami. E era o poder de um grupo. Ele representa um grupo, interesses, determinado segmento bem solidificado durante a redemocratização, que construiu um poder criminoso. Seria o PC [paulo César Farias, homem forte de Fernando Collor] que deu certo.

WAGNER NABUCO Na segunda prisão você dissen que ele abriria o jogo. 
Estávamos indo na viatura. Ele me fala olhando com respeito. Muita frieza. Ele é frio.  No início a mídia foi avassaladora contra, com velocidade, peso nas manchetes. Eu tinha falado "o senhor tem a gande mídia nas mãos, por que financia; agora, não use contra esse trabalho, nem contra mim, porque um dia pode se voltar contra o senhor. A grande mídia pode fomentar mentira por alguns dias, mas uma hora a opinião pública fica saturada. Isso um dia para". Ele pergunta se tenho prova e digo "sim, está na investigação". Ele: "O senhor está enganado, eu não financio." Com frieza, calma. Na segunda prisão peguei os periódicos e coloquei em cima da mesa. Tinha um jornal, ou revista, que publicou matéria contra ele e coloquei no meio. Ele entrou, olhou a mesa de jornais. Quando identificou aquela lá, pergunta: "Quem é que fabricou isso aqui?" Aí ele confessou. Deu certo a estratégia. Mas não vou dizer quem fez a matéria.

PALMÉRIO DÓRIA: A política chegou a ponto tal, de repente você votou no Lula, e batendo boca com o governo.
Não só votei no Lula como ajudei na construção do partido dele no Rio.

PAlMÉRIO DÓRIA: De repente ele batendo boca com você.
O primeiro sentimento foi o de servidor público, teria que cumprir uma ordem presidencial. E me otimizei para concluir a investigação, e consegui a primeira parte. Diz respeito ao crime de corrupção ativa, e de gestão fraudulenta. salvo engano por corrupção ativa que vai ser condenado.  Mesmo companheiros que trairam aqueles propósitos originais da causa operária, da causa social, de apoio aos movimentos sociais, de retribuição de todo aquele conhecimento que tinha do passado, de aplicar isso no presente.

PALMÉRIO DÓ RIA Engraçado, muitos desses companheiros são homens do Dantas hoje. 
Não diria homens do Dantas.

PALMÉRIO DÓRIA Do poder, e próximos dele
Homens do poder, e não só do Dantas. Daniel Dantas representa um poder ainda invisível. É visível à medida que começamos a aprofundar a investigação. Ou até num debate público, ai as pessoas começam a se revelar. Marx dizia "os quadros da sociedade começam a se revelar através de um processo público em que as pessoas se posicionam". Alguns com um ideal, outros com outro ideal. Às vezes me dizem "estão criticando a Satiagraha, a verdade é que foi um sucesso, pautou-se pela lei, pelas regras do direito penal brasileiro, pela Lei de Crimes Contra o Sistema Financeiro Brasileiro. Tanto que vamos ter uma condenação em breve. Significa que o resultado das investigações foi legal.

PALMÉRIO DÓRIA A gente vi tentativas pra desautorlzar. A Veja Inventou o grampo telefônlco sem áudio. A outra é você ter apelado para a Abin.
Por que o auxílio da Abin? Eu estava fragilizado em recursos humanos, com uma operação gigantesca dessa precisaria uns 50 policiais. Me deixaram com cinco. Sobraram quatro até deflagrar a operação. Pensei que fosse uma situação de transição de um diretor para outro, depois percebi que não, era uma orquestração para me tirar todo suporte, para paralisar a operação. Você quer aniquilar o inimigo, acabe com seu suprimento, atépão com manteiga. Falei "tenho que ultrapassar esse obstáculo". Recorri ao sistema ao qual pertenço, Sistema Brasileiro de Inteligência.

MYL TON SEVERIANO Achou um flanco legal.
Sim. Tá em lei. Aqui [tira da bolsa a lei 9.883/99, para ler o parágrafo 2° do decreto 4.366/02, que a regulamenta]. Eles fazem a polêmica e não falam da lei. Não mostram à população. Numa simples leitura você entende: "O Sistema Brasileiro de Inteligência é responsável pelo processo de obtenção e análise de dados e informações, e pela produção e difusão de conhecimento necessário do processo decisório do Poder Executivo e em especial no tocante à segurança da sociedade e do Estado, bem como à salvaguarda de assuntos sigílosos do interesse nacional.
A Operação Satiagraha está mais para a segurança de Estado que pra sociedade. É para os dois, um misto. O que é o processo de obtenção e análise de informações? Vigilância eletrônica, convencional, ou seja, fotografar, filmar, gravar, investigar. Constituem o Sistema Brasileiro de Inteligência: Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Departamento de Polícia Rodoviária Federal e Coordenação de Inteligência da Polícia Federal. Hoje não é mais Coordenação, é Diretoria. Quem pertence? O Protógenes. Então eu estava autorizado por lei a chamar os colegas da Abin. Além disso, a rotina étrocar informações com outros órgãos, inteligência militar: Marinha, Exército, Aeronáutica, Abin, Receita Federal. Até um simples telefonema - uma rasurada num papel de pão, nós consideramos uma informação.

BRUNO VERSOLATO: Há uma informação que um emissário ou assistente do Gilmar Mendes [ministro e atual presidente do Supremo Tribunal Federal] jantou com um advogado do Dantas num restaurante japonês em Brasílla. Na véspera da decisão do habeal corpus. Houve esse jantar?
O fato está sendo investigado pelo Ministério Público federal, não posso fornecer informações.

RENATO POMPEU: Entendi mal ou é  possível elaborar uma lista de Jornalistas que receberam dinheiro de Daniel Dantas.
Não diria que receberam, na investigação aparecem alguns. Não preciso mencionar, está nos relatórios.

RENATO POMPEU: O relatório remete para um anexo.
 E não tivemos acesso. Você tem uma rede de jornalistas que abasteciam Daniel Dantas ou faziam manifestação de mídia a favor dele, favoreciam negócios dele no presente, ou até mesmo projetos futuros.

RENATO POMPEU: Nós podemos ter acesso a esse documento? A lei permite, não?
Acredito que logo isso vai vir a público. Entendo que o Congresso tem que rever isso. Que o Supremo deveria liberar esses dados, ali estão nossos representantes. O povo tem que conhecer, não são dados privados. São públicos, mexeu com recurso público, com nosso dinheiro. Não queremos saber justamente dos dados da vida privada da pessoa. Isso tem que ser preservado, a intimidade. Agora, onde tem fraude, temos que conhecer. Acho que vocês da imprensa têm um grande papel. Bater o dado que tenha fraude, desvio de recurso público, embora captados em investigação sigilosa, temos que reverter, têm que ser de conhecimento público.

PALMERIO DÓRIA: A bancada do Dantas compreende quantos deputados, senador.
O termômetro da bancada do Daniel Dantas no Congresso é o comportamento desses parlamentares no caso Satiagraha. É só ir atrás. Era legal vocês da mídia fazerem um placar. Deputado tal se manifestou. Marca um xis. E na eleição botar lá. Pra nós não elegermos esse povo novamente.

AMANCIO CHIODI: As polícias estaduais reclamam que prendem e os juízes soltam. 
Na instância federal também é assim. Não culpo assim, a polícia. prende e a Justiça solta. Às vezes, um acusado é solto por deficiência legislativa. As nossas leis processuais protegem o bandido! 

WAGNER NABUCO: O Dantas pode sair Ou Ir para a cadelal
Para a cadeia ele vai. Condenado. Em um primeiro momento. Agora, mantê-lo na cadeia depende de nós. Depende do povo. 

MARCOS ZIBORDI: Não depende do Judiciário
Não. No judiciário ele sai no dia seguinte.

MYLTON SEVERIANO: O que você sentiu quando ele saiu livre duas vezes em menos de 48 horasl
Senti vontade de prendê-la a terceira vez. Quase que o prendi. Tinha um fato para poder prendê-Ia, mas iria criar uma crise. Já tinha manifestação em frente ao Supremo Tribunal Federal, membros dos três poderes um acusando o outro, determinado grupo político querendo criar uma nova situação, um passo atrás.

FERNANDO LAVIERI: Mas não seria bom uma virada de mesa?
Não. Eu não sou da teoria de quanto pior melhor. Para mim, quanto pior, pior. Esse quanto pior melhor eu aprendi com 14, 15 anos. Hoje vivemos no século 21: quanto pior, pior. 

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